O Anseio por Uma Vida Feliz.
Se lhe fosse dada a possibilidade de escolher, O que te faria
feliz?
A experiência da existência é algo incrível. Existir não é
apenas estar aqui, nesse “mundo” que vemos. É vivenciar esse mundo com toda a
entrega que nos cabe. Existir não inclui apenas amores e sabores, mas, medos,
separações, perdas doenças e dores. A vida seria seguramente um tédio se não
houvesse as frustrações.
Recentemente
em uma entrevista concedida á revista gazeta do povo, o psicanalista Italiano
Contardo Calligaris, trouxe algumas observações sobre a busca insana pela
felicidade. Apontou que nos anos de 1950 e 1960, em meio a euforia do
pós-guerra, se solidificou o ideal de felicidade. Naquele momento, esse ideal
se relacionava especialmente a ter uma casa própria, estar casado (a), ter
filhos. Sexo e amor deveriam andar juntos.
Esse
modelo lhe é familiar?
Ele
ainda levantou outra questão muito interessante sobre a inclusão das redes
sociais no nosso “atual modo de viver”: A maneira como a exposição constante do
modo de viver das pessoas, nos leva a confrontar nossa felicidade com a
felicidade dos outros a todo o momento.
É
cada vez maior a necessidade de aparentar felicidade, e nos convencermos de que
somos realmente felizes. Uma necessidade construída socialmente, vinda de
antigas referências. Nós precisamos cada vez mais expressar o nosso grau de
sucesso e satisfação, sejam com produtos ou experiências que provem a nós e ao
mundo que estamos “bem”. A grande questão é como esse movimento pode ser
cansativo, e emocionalmente dispendioso.
É
claro que não está tudo bem a todo o momento. Passamos pelo luto das pequenas
perdas e das grandes perdas. O luto pelas renuncias a cada escolha. Viver é um
vai e vem de agrados e desagrados. Se não houvessem frustrações, não
conheceríamos o todo de existir, que inclui os medos, as dores, as doenças, e
seriamos poupados de viver intensamente toda a variedade de emoções.
Entretanto,
estamos muito empenhados ainda na necessidade de evitar o sofrimento.
Mas
na realidade qualquer definição de felicidade seria extremamente equivocada.
Podemos nos sentir felizes nas mais variadas vivências, cada pessoa tem as
suas. Mas definitivamente, felicidade não significa ausência total de dor.
Quando
podemos reconhecer a dor que nos atormenta, e permitir que ela seja expressada
de forma genuína, abrimos o caminho para que o novo chegue. Torna-se possível
dar um novo significado a aquilo que tanto incomodava. Toda vez que procuramos
ignorar uma experiência importante, de dor ou sofrimento, em algum momento ela
retorna, e nos dá uma rasteira.
Cada
evento tem seu valor, por isso precisamos dar a eles sua devida intensidade, é
preciso vivenciá-los. Alguns deles doem profundamente, outros servem para nos
alertar, mas todos trazem o crescimento que precisávamos naquele instante.
Às vezes é só numa dolorosa despedida que percebemos o quanto somos
amados e queridos por alguém. Rupturas são necessárias, nem que sejam
para desvendar ocultos sentimentos.
Parece
que estamos o tempo todo protelando nossa felicidade e nosso bem estar.
Esperamos ser felizes quando arrumar aquele emprego, quando casarmos, quando
emagrecer, ganhar na mega-sena. Claro, queremos ser felizes também quando tudo
isso acontecer, mas, e hoje? O que queremos hoje?
Hoje,
estamos vivendo dentro da ilusão de um futuro mais feliz.
A
realidade é que sempre nos damos menos do que poderíamos, é como se de cem por
cento, merecêssemos apenas trinta. Nos entregamos pouco ás experiências, aos outros
e não nos permitimos bancar o nossos desejos. Estamos o tempo todo nos
defendendo dos possíveis ataques, da vida e dos outros.
Sim,
porque desejamos muito. E esse desejo não se refere a ter algo, ou cumprir
aquele ideal de felicidade do inicio do século passado. Pode ser, por exemplo,
nos tornar tudo aquilo que sabemos ter o potencial de ser. Ou, pode significar
a renuncia de algo que parece conveniente fazer, mas que lá no fundo o coração
diz não com todas as forças.
Bancar um desejo pode implicar em dor. É certo que para cumprir o nosso direito de sermos o que desejamos,
naturalmente, iremos desagradar e contrariar os desejos: da família, dos amigos,
do parceiro, dos filhos, dos chefes e de quem mais se sentir no direito de
desejar sobre nós.
Conseguir bancar nossos desejos e aguentar as perdas que isso implica, pode ser
extremamente prazeroso. Um sentimento de poder sobre a nossa vida, que não alcançaríamos jamais delegando esse poder a outro. Talvez poucas felicidades se
aproximem a felicidade de ter as rédeas da própria vida, das escolhas, dores e
delicias em meio às próprias mãos.
Como
disse Lenine em poesia: “... porque não somos
só intuição, nem só pé-de-chinelo, pé no chão, nós temos violência e perversão,
mas temos o talento e a invenção, desejos de beleza em profusão, ideias na
cabeça, coração, a singeleza e a sofisticação, o choro, a bossa, o samba e o
violão... ” (Ecos do Ão)
No final, a vida é força que segue, se renova e reinventa. Não
se prende nem se limita, está sempre em curso e em movimento, no sentido de ir
e não no de ficar. Por isso estagnar-se, aprisionar-se ou correr no sentido
inverso contraria seu verdadeiro objetivo: desenvolver-se e evoluir. Talvez,
uma boa vida, ou uma vida feliz, seja aquela intensamente vivida.
Você
já imaginou como seria viver plenamente a vida que você próprio se dá?
Por: Bárbara M. Rodrigues
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